terça-feira, 24 de agosto de 2010

Sobre reconhecer a utilidade de suas asas

 Julho de 2010, Jequié, Bahia.

E a água tocava no seu corpo de forma tão intensa que ele em algum instante que olhou para cima – logo quando coincidentemente estava em baixo do poste de luz elétrica – percebeu-se dentro de uma fotografia em constante movimento como se estivesse em cenas de filmes nacionais. A chuva mudara rapidamente o fluxo - ainda mais contra aquela luz amarelada do poste - deixando o ambiente com uma sensação mista de incômodo e familiaridade.
Ali, depois de fazer toda uma “viagem” de táxi numa terça-feira de agosto, dia em que ele se sentiu penetrado pela certeza de mais uma construção. Aquela certeza tão almejada por qualquer jovem-adulto: o fato de poder – AGORA - ter uma casa para chamar de sua.
A casa que poderia ser chamada de sua, e que, além disso, ele pudesse se reconhecer não só em metade de um quarto, mais em um quarto inteiro, uma cozinha, uma sala, banheiro e lavanderia.
As paredes que separam e demarcam espaços seriam agora espelhos.
As coisas agora eram feitas dele. Essencialmente.
Agora ele se sentiu verdadeiro para compreender a dimensão dessa conquista. O grau da mudança de postura e responsabilidade que isso acarreta.
Hoje, ele se sente realmente preparado para escolher ser responsável por isso, não somente levado a ter responsabilidades que lhe agridem e tragam sofrimento.
Não que ele não curta o sofrimento (acreditem: ele aprendeu a gostar do sofrimento). Só que agora o mundo conspira e tudo é realmente uno. 
Ele percebeu que além de sonhador, ele agora é fruto de uma colheita que gerou sonhos vermelhos, deliciosamente saborosos para saciar sua fome do significado da palavra caseiro.

Um comentário:

  1. Aleeex!!
    Nossa, quanto tempo não comento aqui... rsrsrs
    Esse texto me lembrou um trecho de "Verdade Tropical", livro de Cateano, e que ele lê durante o show Prenda Minha: "Lembro com muito gosto o modo como ela se referia a ele. Pelo menos ela o fez uma vez e isso ficou marcado muito fundo, dizendo: Caetano, venha ver o preto que você gosta. Isso de dizer o preto, sorrindo ternamente como ela o fazia, o fez, tinha, teve, tem, um sabor esquisito, que intensificava o encanto da arte e da personalidade do moço no vídeo.
    Era como isso se somasse àquilo que eu via e ouvia, uma outra graça, ou como se a confirmação da realidade daquela pessoa, dando-se assim na forma de uma bênção, adensasse sua beleza.
    Eu sentia a alegria por Gil existir, por ele ser preto, por ele ser ele, e por minha mãe saudar tudo isso de forma tão direta e tão transcendente. Era evidentemente um grande acontecimento a aparição dessa pessoa, e minha mãe festejava comigo a descoberta."

    Seus posts sempre me trazem boas lembranças, e sempre dão vontade de escrever tbm! hehhee

    Saudadeeees!
    Beeeeeijo

    ResponderExcluir