quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Um dia sonhei que tinha sombras na minha frente, reflexo de algo que me perseguia.
Voltando do trabalho constatei que eram sombras de pessoas.
Nesse dia, não eram mais as pessoas do ônibus que me olhavam, era eu que olhava para cada uma. Para cada parte de mim que estava a me julgar, me colocar contra a parede, mostrando-me que de fato existe a realidade. E que ela está ali. Logo ali.
Nesse dia, o ponto de ônibus foi meu conforto. Minha caneta e mão se tornaram uma máquina fotográfica a fotografar as palavras-imagem que não voltariam mais a se organizar dessa forma no papel que carrego constantemente comigo: o meu corpo humano.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Com o tempo venho querendo voltar a ser aquele alex de antes e saber lhe dá com o alex que me tornei.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Até onde o processo de conhecimento gera entendimento? A fase primária, por vezes, é difícil de ser compreendida? Ou nesta fase primária, por estar envolto de conflitos internos pelo momento de formação enquanto indivíduo (nessa constante passagem para a vida adulta) acaba gerando essa necessidade de dialogar, sendo que muitas destas, somente você fala, onde o outro passa a ser ouvido, passa a ter um tom de quase uma "análise", funcionando assim, de imediato, pelo menos pra você.
Porque, é destes momentos (que acabam sendo vários, até os mais cotidianos) você está sempre num processo de interiorização, numa reflexão constante sobre o lugar que realmente você ocupa. Voltando sempre ao questionamento: qual é o sentido? Como encontrar e identificar as amarras com a realidade? Como encontrar os termos, construir o vocabulário, falar com propriedade de si mesmo, sem ser pretensioso e arrogante? Como responder perguntas sem que essas perguntas ainda existam? Como funciona a questão sobre descobrir que a pergunta já existe dentro de você depois que você encontra a resposta? A preocupação nasce da não-ocupação?
Até onde o outro está disponível para um diálogo-análise? Até onde existe a linha tênue que separa o outro, você e o diálogo? Como esse processo pode acontecer sem ser agressor?

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sobre as coincidências

A lua, que outrora funcionava como meu depósito de energia (ainda mais depois de um dia exaustivo de trabalho como vendedor de uma loja de roupas), que fazia o meu sonho ser de forma circular, concreto e iluminado, agora faz visitas na janela do meu quarto de forjar mundos virtuais e sonhos na parede.
O sol, namorado a distância da lua, que sempre banhou a minha rotina de andar veloz com bicicleta pelas ruas pouco movimentadas de trânsito e bem cheias de motocicletas, agora é essência básica dos instantes roubados.
Hoje, esquecendo-me de ver a lua - ou não tendo mais tempo para isso – utilizo o sol como tintas numa tela, a criar volumes em poesias-sonho de histórias-registro de uma fase de descoberta.
A lua, esquecida, faz visita na sala noturna que sem lâmpada acesa passa a ser preenchida pela luz que entra na janela e cria sombras.
A lua, que antes era energia do sonho, passa a ser elemento básico da constatação do sonho realizado e re-adaptado.
A cidade-sol agora está nos meus olhos, no fotômetro da minha máquina, nos sais de prata que são sensibilizados, no sonhador que captura poesias em imagens do cotidiano banhado de um passado, passarinho da infância.

terça-feira, 19 de outubro de 2010


Juliena, que antes fazia moradia em casas que tinham em frente avenidas movimentadas, agora mora numa casa que dá para deitar no teto e ver as nuvens.
O trânsito de carros agora foi trocado pela rota de aviões que passam no céu de hora em hora, as vezes em cima de sua casa, noutras vezes em frente a sua grande janela da sala.

***

Caetano de cores e nomes e outras palavras. Gal de fa-tal e cinema olympia. Cat Power de leveza e lembrança. Nina Simone de tom áspero e nostálgico.
Todos estes são os seus vizinhos companheiros. Toda a vida lá fora, nestas janelas e varandas dos prédios, é embalada pelo ritmo constante destes que fazem café para servir com poesia.

***

Hoje ela olhou seu álbum de fotografias, suas primeiras fotos feitas com uma nikon fm10 e uma N80 e viu tanta beleza no seu olhar curioso, em como cada imagem trazia um pedaço dela por entrelinha, em como cada imagem trazia uma narrativa do senhor tempo. E isso era tão nítido. E ela chorou.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Eu sou um desastre, pensou João no ponto de ônibus.
Tudo passou a ser escorregadio. Tudo como areia entre os dedos.

Agora era ele sozinho, novamente. Como sempre fora. 
Ele ainda estava assustado com as contas a pagar e o aluguel a vencer todo dia dez do mês. Não havia escolhas e poesias. Tudo era cru e sua mala estava cansada de ser montada e desmontada com constância. 

Encontrou com a sua família e percebeu-se tão alheio a tudo. Não conseguia sentir-se como pertecente aquele espaço.
As juras de amor já não eram como antes. Agora tudo se resumia a ligações - duas ligações por dia - e encontros nos fins de semana de 15 em 15 dias. 

A beleza de ser supreendido tinha se tornado tão esperada e guardada em gavetas que ele resolveu trancá-las com chaves.
Os dias pareciam pesados - aqueles dias com horários e compromissos a cumprir - em que voltar pra casa e perceber-se carente era como ter que consertar a descarga quebrada a dias.

Tudo era tão dele e ao mesmo tempo tão em vão, que as únicas coisas que ele ainda tinha coragem para mudar era o cabelo e a barba. 
Aquela era a forma que ele encontrou de acordar no outro dia, olhar-se no espelho e não ver mais o João. 
Ele desejava não ter nome, família, passado e história. 


Era assim que ele conseguia escapar da inércia da vida.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O meu casaco de general vem a me perseguir durante dias dentro da minha nova casa.
Tem horas que o coloco na maçaneta da porta e ele me aparece vestido no cabide. Noutras vezes, chego em casa carregando ele na mão e depois de alguns instantes ele me aparece dentro da mochila.
O meu casado de general já tomou 7 garrafas de vinho, fumou maconha de amigos visitantes com promessas de dias felizes cheios de soma.
Ele já encheu metade da parede de semiótica, de um mundo prisioneiro nas grades de sua criatividade.
Preso, é assim que ele imagina. Só que ele não entendeu que os significados são vários e mudam sempre de referências, sendo mil em um milhão.
O meu casado é de ter livros que enchem estantes antigas de madeira dos anos 80.
Meu general é de Jequié, de descidas para o seu navio-bar Rotary Club. De cidade sol, carne seca e mandacarú.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Tudo na vida, mesmo já tendo sido vivido demais da conta, tudo é sempre igual e clichê.
Amor, saudade, paixão, ciúme... Todos estes sentimentos vêm fadados de uma realidade banhada na certeza de nos fazer reféns, vítimas de um chão já andado e batido.

E eu não me canso. Cat power até morrer, nestes dias.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Teremos sempre paredes brancas para colocar novos cartões postais.




estaremos

preparados

para

essas

paredes?



Prefiro saber de onde virão novos cartões postais.

O relógio de compromissos guardados, ressoam exalando tempos vindouros de uma Paulicéia desvairada ou de uma Pasárgada desconhecida, com suas estradas de tijolos amarelos de Dorote... ou nos jardins floridos de Alice a passear com a lucidez de Shihiro e com desejo avoador do joão do pé de feijão. Porque em dias de chuva e sol, dias de casamentos de raposa e de major, a beleza é dada no espelho que desconstroi o que sempre vem a ser denominado pelo deus do ego.

Nós, sementes. Vida de peixe a nadar em laje de sol, de alimento de pássaro que, com pés firmes permitem-se voar numa cidade ainda desconhecida pelos sonhos. Que com pés firmes e asas abertas permitem-se semente também ser, sabendo que em paredes brancas também existem cartões postais brancos de uma coisa ainda por fazer.







Alana, Alex.

domingo, 19 de setembro de 2010

Sonhar com pássaros. Ter lembranças como tapete de uma realidade. Perceber-se num mundo onde ruas são ladeiras, e, no final delas, abismos. Sim, ando sonhando com abismos. Assim mesmo, com todos os gerúndios possíveis.
Acordei às 6h de domingo de um sono maravilhoso e de duas semanas intensas de trabalho e mudanças. Constatei que tudo era novo.
Ontem a tarde passei a máquina em metade do meu cabelo e minha imagem no espelho já não era a mesma, minhas companhias caseiras agora eram outras e existiam outros livros – que não os meus - espalhados pela sala com a promessa de serem lidos.
Gozo da percepção única e simples da evolução. Da condição de sonhador a fruto do sonho. De não ser mais aquela pessoa que mora na principal avenida da cidade, aquela que liga a sua cidade a outras. E ficar ali, inerte, olhando as pessoas que se vão dentro dos ônibus que passam e deixam pra trás a possibilidade de uma ida.
Hoje habito aquelas pequenas janelas de rostos transitórios. Fotografia em movimento. Carrego, atualmente, a inversão de papéis. Da mãe sendo filho e do filho sendo responsável pelas contas a pagar.

sábado, 4 de setembro de 2010

O futuro dura muito tempo

As rádios de Jequié sempre participaram da minha vida enquanto  um cidadão jequiense. Hoje percebo isso ainda mais nitidamente. 
As canções que tocavam - umas que sei até hoje cantarolar, outras que reconheço pela melodia - todas elas registram lembranças. 
Consigo me transportar totalmente para o passado, para os momentos e sentimentos que eu vivia quando aquela música tocava no rádio como plano de fundo de alguma coisa situação corriqueira. Aquelas canções hoje são fantasmas que de vez em quando aparecem para me atormentar. 
Percebo que pessoas sensíveis carregam consigo uma mala sempre arrumada - ou não - para seguir viagem. Entretanto, nunca lhe são dadas tempo favorável para desfrutar das paisagens que compõem o cenário. Tudo é visto de fora, sempre em velocidade, sendo passado constantemente como uma película de filme projetada na janela. É, assim, que a vida e os acontecimentos passam e deixam claro a sua inércia perante eles.
Os horizontes, pássaros, nuvens e pessoas... tudo aquilo é algo desconhecido e fugaz. 
O cinema tem sempre em cartaz pessoas e cenas mudas e sem legendas. Talvez seja isso que eu sinto quando deixo de ler dentro dos ônibus coletivos e passo a observar a correria urbana. No começo, fazia aquilo com a intenção de reconhecer as ruas e avenidas pelos detalhes da arquiteturas de prédios e casas. Hoje me perco nas cenas e pessoas. Mergulho na imaginação literária que tenho, e, algumas vezes, percebo-me imerso nas histórias. Por vezes sou eu ali e acolá. Sou tantos por aí, a correr, a espera do próximo ônibus, a sorrir pelas ruas sentindo-me um ser livre de uma idéia de liberdade criada por mim. Sou eu, passarinho vo.ando. Sou poeta-fotógrafo responsável por imortalizar histórias em fotos e atribuir a elas, lembranças. Sejam cheiros, fotografias ou músicas, as lembranças são como a pele vestindo o esqueleto da vida. Compondo, dessa forma, os diferentes lares.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O ex-morador

... e eu digo adeus a todos os que são de adeus.” 
Encontrei esta frase na parede do corredor da casa que eu acabei de comprar. O ex-morador tinha manias estranhas, diziam os vizinhos. Uma delas era escrever nas paredes quando os pensamentos e poesias não conseguiam ficar no papel. Fora isso, encontrei um buraco tão profundo na parede de um dos quartos que dava para ver os tijolos. Ao redor do buraco havia a seguinte frase: “arte contemporânea”; e uma seta indicando para o centro daquela circunferência. Tudo soava marcas e registros daquele ser que por ali morou. 
Nas janelas havia fotos de janelas de outros lugares. Nas portas, fotos de cenas de filmes, artistas conceituados e fotos de fotógrafos famosos tirados de catálogos de exposições. E além de tudo, o ex-morador era um colecionador de cartões postais. Existia um teto todo cheio deles.
Quando entrei no banheiro – que digamos de passagem, é um dos banheiros maiores que já vi – no espelho retangular que tinha na parede existia um adesivo escrito: “Lembre-se de cuidar de você”.
Tudo por ali cheirava lembranças e mais lembranças. Aquilo era como um grande álbum de fotografias. Naquele espaço, a imortalidade existia.
E por incrível que pareça, tive saudade daquele ser que até então não conhecia. Quis que ele fizesse parte fisicamente da casa e diretamente da minha vida (porque indiretamente ele já fazia).
De tudo que se foi e de tudo que ficou só restou à saudade daquele ex-morador que um dia deixou escrito uma poesia de Mário Quintana intitulada “Sobre levar a infância a sério”.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Sobre reconhecer a utilidade de suas asas

 Julho de 2010, Jequié, Bahia.

E a água tocava no seu corpo de forma tão intensa que ele em algum instante que olhou para cima – logo quando coincidentemente estava em baixo do poste de luz elétrica – percebeu-se dentro de uma fotografia em constante movimento como se estivesse em cenas de filmes nacionais. A chuva mudara rapidamente o fluxo - ainda mais contra aquela luz amarelada do poste - deixando o ambiente com uma sensação mista de incômodo e familiaridade.
Ali, depois de fazer toda uma “viagem” de táxi numa terça-feira de agosto, dia em que ele se sentiu penetrado pela certeza de mais uma construção. Aquela certeza tão almejada por qualquer jovem-adulto: o fato de poder – AGORA - ter uma casa para chamar de sua.
A casa que poderia ser chamada de sua, e que, além disso, ele pudesse se reconhecer não só em metade de um quarto, mais em um quarto inteiro, uma cozinha, uma sala, banheiro e lavanderia.
As paredes que separam e demarcam espaços seriam agora espelhos.
As coisas agora eram feitas dele. Essencialmente.
Agora ele se sentiu verdadeiro para compreender a dimensão dessa conquista. O grau da mudança de postura e responsabilidade que isso acarreta.
Hoje, ele se sente realmente preparado para escolher ser responsável por isso, não somente levado a ter responsabilidades que lhe agridem e tragam sofrimento.
Não que ele não curta o sofrimento (acreditem: ele aprendeu a gostar do sofrimento). Só que agora o mundo conspira e tudo é realmente uno. 
Ele percebeu que além de sonhador, ele agora é fruto de uma colheita que gerou sonhos vermelhos, deliciosamente saborosos para saciar sua fome do significado da palavra caseiro.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Auto-retrato, luzes de Jequié, dupla exposição.

Ando, atualmente, em pedaços da minha mais fina estampa. Esta que demorei anos para aprender a enxergá-la com cores. Cores vivas e das mais variadas. Cores de Almodóvar.

Sigo em terra terrestre de pegar ônibus lotado e dividir moradia em vários pedaços. Tento, todo santo dia, sobreviver às contas - que tudo indica que serão ainda maiores - e pensar que o sonho na real é sempre assim: cheio de realidade.

Vôo seguro na minha tão enquadrada visão de obturador. A luz que entra é como luz lateral de janela aberta em fim de tarde no sertão. É tudo tão límpido e plástico, quanto ver a arquitetura urbana refletida em restos de água que sobram pela rua.

Vivo imerso em retratos que documentam a minha caminhada de sonhador tão sedento de histórias e poesias. A minha vida pode ser vista e contada como um álbum de fotografias de um homem que em algum momento de sua vida resolveu deixar-se imortalizado na presença espaço-temporal de seus heterônimos que viveram em realidades sobrepostas.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010


 
Lembranças são pedaços de sonhos soltos pela rua.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Os dias andam cada dia mais sem planejamento, afirmava renata no telefone.
Júlia, do outro lado da linha, dizia: percebi que existe vida justamente nestas horas do não fingimento. 
(despedem-se uma da outra dizendo: beijo no ombro. Frase que as divertem e sela entre elas um pacto quase adolescente, mesmo elas estando já no auge dos seus 26 anos).

Passaram anos e mais anos e elas, tão amigas e cúmplices, não se vêem mais. No maior das boas intenções e das saudades conversam no msn, deixando de lado as horas e mais horas que passavam ao telefone. 

A vida esconde por entrelinhas o somente das coisas e das pessoas. 
Salvador, 11 de maio de 2010

O silêncio da noite é fascinante. Escutava-se lá, ao fundo, o latido de um cachorro. Por vezes, passava um carro na avenida e o som do pneu no asfalto, o som da velocidade invadia a casa.
Tudo é tão tênue e singelo.
Tudo parece estar num ponto de ebulição, na beira de um caos.

À noite, os axiomas do mundo saem e se fazem presentes.
Beirar-se na vida é como andar por ruas noturnas e desertas ou simplesmente escutar o som da respiração da pessoa que dorme ao seu lado. É nestas nuances que a fugacidade da vida toma formas de sonhos e consome os seres, que mesmo dormindo, vivem.

Viver é por demais silencioso.
É no silêncio, é no silêncio...

sexta-feira, 12 de março de 2010

Scorsece salvou minha quinta-feira

Salvador, 11 de março de 2010



O que há dentro de nós?
O filme 'Ilha do Medo' de Martin Scorsese que acabou de ser estreado nos coloca de frente com esta pergunta.
Durante grande parte - digamos 70% do filme -, Scorsese nos leva a acreditar que o personagem que Di Caprio atua é um policial federal, um detetive. Até aí, tudo normal.
Chegamos a tentar prever o que acontece nestes filmes do gênero.
Algumas formas de filmar, enquadrar. A trilha que entra em determinado momento, a fotografia que induz.
Contudo a coisa muda DESCARADAMENTE.
Nós, espectadores-detetives na esperança de algo que nos supreenda, somos levados a uma viagem interior junto com o personagem que a todo instante é pertubardo por alucinações. O grande desafio no fim é nos encarar de frente neste jogo de xadrez no qual o cheque-mate só pertence ao jogo.


A Ilha do Medo tem diversas analogias.
Uma delas ficou nitidamente gravado em minha cabeça depois que eu saí do cinema. Seja por ter assistido uma aula na manhã de quinta sobre comunicação e tecnologia, ou não, o fato é que a ilha  tem muito em comum com o mundo contemporâneo, vulgo mundo-virtual, atualmente.
Esta virtualidade tem como necessidade a formação e construção de um novo eu que não mais vive num lugar denominado sociedade, e sim, numa rede social.
As grandes questões se reduzem a estas duas perguntas que se seguem:
Que monstros podemos construir?
Que monstros habitam dentro de nós?
[...]


Uma coisa eu tenho certeza: todos temos ilhas nas quais servem como válvula de escape.
Sejamos monstros ou não, todos tentamos adestrar os nossos medos.


Confiram o trailler:

quarta-feira, 10 de março de 2010

Jequié, 04 de março de 2010

Acabo de escutar um tremendo trovão. Minha tia Lourdes e minha mãe estão sentadas na sala. Todas duas em silêncio, tomando café que acabou de ser coado.
As folhas das árvores do quintal fazem bastante zuada com o vento forte e trazem um clima de temporal por vir.
Aqui na caatinga quando chove tem-se suas manias e ditados: "não pode ficar sem camisa quando está trovejando, menino!", "Desligue a TV por causa dos raios", "não ande descalço", "não pegue em metais", "coloque toalhas nos espelhos". Fui criado assim, com todas estas afirmações-preocupações.
Quando começava a chover sempre era a hora da correria. Cada um tinha a sua função , tudo como forma de precaução devido as goteiras no telhado que o vento junto com a chuva causava.  Ficávamos todos no banheiro (único lugar da casa que tinha laje) na esperança que a chuva se acalmasse.
Minha mãe ficava a rezar 'Salve Rainha' e sempre respeitávamos toda aquela fé na qual ela se apegava.
E não era que a chuva realmente passava?
A vida esconde estes mistérios difícieis de serem explicados.

Quando estávamos no banheiro sempre ficava imaginando coisas: como seria se a casa toda tivesse caído quando abríssemos a porta do banheiro?
Numa dessas chuvas torrenciais o muro do quintal caiu, o cachorro escapuliu e minha bicicleta ficou embaixo dos tijolos. Experimentei o sabor de uma perda.
As chuvas sempre foram responsáveis por fazer com que todos estivessem unidos num mesmo ideal: proteger-se.
O caos sempre leva a reflexão, de uma forma ou de outra.
Por isso sempre gostei de dias chuvosos com ventos e ameaças de tempestades.



terça-feira, 9 de março de 2010

Jequié, 02 de março de 2010


Estou em Jequié e já era pra ter ido embora. Contudo, tenho comigo uma sensação de querer estar, de ainda permanecer, de ter o que fazer ainda por aqui.
Já assisti 'Cinema, aspirinas e urubus' de Marcelo Gomes. Devo resaltar que este filme é uma ótima representação dos filmes nacionais. O roteiro, a fotografia, os atores. Tudo merece crédito. 
O destino, algo tão buscado pelos personagens que seguem viagem e no qual me faço passageiro e carona como espectador, demonstra e me toca de uma forma intensa.
Venho estado constantemente viajando atrás do meu destino. Um destino que pode mudar a qualquer momento.
Hoje assisti 'Coração Selvagem' de David Lynch. Nicolas Cage no personagem Sailor veste na grande maioria do filme sua jaqueta de pele de cobra acreditando e vendo naquilo um signo de sua liberdade pessoal. Ele, dono de um coração selvagem. (não tem como não me identificar também com isso).
Ainda passei por 'As pontes de Madison' de Clint Eastwood e o documentário 'Edifício Master' de Eduardo Coutinho. Reassisti 'Wall-e', animação da Disney com minhas sobrinhas Nicole e Andressa e de novo chorei, agora no colo de Andressa que também estava aos prantos. 
Todos estes momentos são únicos. E cada dia que retorno, elas estão maiores.
O tempo passa e não acompanho o crescimento delas. No fim tenho realmente certeza que 'a vida é uma ilusão', frase que tenho certeza de ter escutado no filme 'O poderoso Chefão'.
Minha mãe está cada dia mais carente e percebo-me impotente neste 'problema'. 
Estou num processo de vôo constante. Experimentando a sensação de ser livre, de estar vo.ando.
Sigo com a certeza de que as coisas por aqui já não são mais as mesmas.
Contanto, ainda sei ser feliz em Jequié.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Sim, eu mudei. Mas alguma coisa ainda continua a mesma aqui dentro.
Hoje saboreio o gosto da liberdade, o sabor do vento e de suas sutilezas.
Enxergo os pesos e os preços que se paga. Estou forte e tenho medo.
Preciso sempre do caos, de mexer-se por dentro e reencontrar-se constantemente.
Sofro de perdas, e elas são inevitáveis.
Levo comigo as minhas certezas e os meus dias felizes.
Tenho comigo o verão e o inverno, e estes climas contrários me causa inquietude e incompreensão.
Sou como o tempo, que se esvai e retorna em questão de segundos sem ao menos ser perceptível.
Tenho as minúcias das entrelinhas da vida aqui, como tatuagem.


Nasci da Aurora e hoje sou noite.
Vejo vida e resolvo minhas questões como pequenas penitências.
Sim, eu mudei. Mas alguma coisa continua ainda a mesma.
Sempre fui vizinho de oficinas. E minha casa sempre esteve em frente a avenidas movimentadas. Sempre fui só.
O silêncio me consome. Gosto dos barulhos e das vozes. E gosto de esconder-me dentro de lugares que parecem inabitáveis. É lá que me re-faço, me re-vejo.


Descobri como segurar o tempo e partes do espaço.
Hoje vivo de mortificar onde enxergo beleza. Entrego aquilo como algo belo aos seres.
Sou movido pelo amor.
E neste caminho existe a paixão, dona do prazer constante.
Sim, eu mudei. Mas alguma coisa ainda continua.
Sou ser sem nome.
Brinco de vestir personagens e fazer da vida uma grande comédia na qual somente eu assisto como espectador.


Sim, eu continuo o mesmo.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Cuidado ao ser um sonhador.
O preço, no final,
é duas vezes metade daquilo que se foi
com aquilo que se passou a ser.

Os abismos - sempre - são docemente cruéis
no início,
Contudo, o gozo do regozijo equilibrante
não tem preço.

Um sonha-dor ao ser
cuida dos sonhos
que fazem dos espelhos suas páginas
de livros nunca dantes terminados.