segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O meu casaco de general vem a me perseguir durante dias dentro da minha nova casa.
Tem horas que o coloco na maçaneta da porta e ele me aparece vestido no cabide. Noutras vezes, chego em casa carregando ele na mão e depois de alguns instantes ele me aparece dentro da mochila.
O meu casado de general já tomou 7 garrafas de vinho, fumou maconha de amigos visitantes com promessas de dias felizes cheios de soma.
Ele já encheu metade da parede de semiótica, de um mundo prisioneiro nas grades de sua criatividade.
Preso, é assim que ele imagina. Só que ele não entendeu que os significados são vários e mudam sempre de referências, sendo mil em um milhão.
O meu casado é de ter livros que enchem estantes antigas de madeira dos anos 80.
Meu general é de Jequié, de descidas para o seu navio-bar Rotary Club. De cidade sol, carne seca e mandacarú.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Tudo na vida, mesmo já tendo sido vivido demais da conta, tudo é sempre igual e clichê.
Amor, saudade, paixão, ciúme... Todos estes sentimentos vêm fadados de uma realidade banhada na certeza de nos fazer reféns, vítimas de um chão já andado e batido.

E eu não me canso. Cat power até morrer, nestes dias.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Teremos sempre paredes brancas para colocar novos cartões postais.




estaremos

preparados

para

essas

paredes?



Prefiro saber de onde virão novos cartões postais.

O relógio de compromissos guardados, ressoam exalando tempos vindouros de uma Paulicéia desvairada ou de uma Pasárgada desconhecida, com suas estradas de tijolos amarelos de Dorote... ou nos jardins floridos de Alice a passear com a lucidez de Shihiro e com desejo avoador do joão do pé de feijão. Porque em dias de chuva e sol, dias de casamentos de raposa e de major, a beleza é dada no espelho que desconstroi o que sempre vem a ser denominado pelo deus do ego.

Nós, sementes. Vida de peixe a nadar em laje de sol, de alimento de pássaro que, com pés firmes permitem-se voar numa cidade ainda desconhecida pelos sonhos. Que com pés firmes e asas abertas permitem-se semente também ser, sabendo que em paredes brancas também existem cartões postais brancos de uma coisa ainda por fazer.







Alana, Alex.

domingo, 19 de setembro de 2010

Sonhar com pássaros. Ter lembranças como tapete de uma realidade. Perceber-se num mundo onde ruas são ladeiras, e, no final delas, abismos. Sim, ando sonhando com abismos. Assim mesmo, com todos os gerúndios possíveis.
Acordei às 6h de domingo de um sono maravilhoso e de duas semanas intensas de trabalho e mudanças. Constatei que tudo era novo.
Ontem a tarde passei a máquina em metade do meu cabelo e minha imagem no espelho já não era a mesma, minhas companhias caseiras agora eram outras e existiam outros livros – que não os meus - espalhados pela sala com a promessa de serem lidos.
Gozo da percepção única e simples da evolução. Da condição de sonhador a fruto do sonho. De não ser mais aquela pessoa que mora na principal avenida da cidade, aquela que liga a sua cidade a outras. E ficar ali, inerte, olhando as pessoas que se vão dentro dos ônibus que passam e deixam pra trás a possibilidade de uma ida.
Hoje habito aquelas pequenas janelas de rostos transitórios. Fotografia em movimento. Carrego, atualmente, a inversão de papéis. Da mãe sendo filho e do filho sendo responsável pelas contas a pagar.

sábado, 4 de setembro de 2010

O futuro dura muito tempo

As rádios de Jequié sempre participaram da minha vida enquanto  um cidadão jequiense. Hoje percebo isso ainda mais nitidamente. 
As canções que tocavam - umas que sei até hoje cantarolar, outras que reconheço pela melodia - todas elas registram lembranças. 
Consigo me transportar totalmente para o passado, para os momentos e sentimentos que eu vivia quando aquela música tocava no rádio como plano de fundo de alguma coisa situação corriqueira. Aquelas canções hoje são fantasmas que de vez em quando aparecem para me atormentar. 
Percebo que pessoas sensíveis carregam consigo uma mala sempre arrumada - ou não - para seguir viagem. Entretanto, nunca lhe são dadas tempo favorável para desfrutar das paisagens que compõem o cenário. Tudo é visto de fora, sempre em velocidade, sendo passado constantemente como uma película de filme projetada na janela. É, assim, que a vida e os acontecimentos passam e deixam claro a sua inércia perante eles.
Os horizontes, pássaros, nuvens e pessoas... tudo aquilo é algo desconhecido e fugaz. 
O cinema tem sempre em cartaz pessoas e cenas mudas e sem legendas. Talvez seja isso que eu sinto quando deixo de ler dentro dos ônibus coletivos e passo a observar a correria urbana. No começo, fazia aquilo com a intenção de reconhecer as ruas e avenidas pelos detalhes da arquiteturas de prédios e casas. Hoje me perco nas cenas e pessoas. Mergulho na imaginação literária que tenho, e, algumas vezes, percebo-me imerso nas histórias. Por vezes sou eu ali e acolá. Sou tantos por aí, a correr, a espera do próximo ônibus, a sorrir pelas ruas sentindo-me um ser livre de uma idéia de liberdade criada por mim. Sou eu, passarinho vo.ando. Sou poeta-fotógrafo responsável por imortalizar histórias em fotos e atribuir a elas, lembranças. Sejam cheiros, fotografias ou músicas, as lembranças são como a pele vestindo o esqueleto da vida. Compondo, dessa forma, os diferentes lares.