sábado, 4 de setembro de 2010

O futuro dura muito tempo

As rádios de Jequié sempre participaram da minha vida enquanto  um cidadão jequiense. Hoje percebo isso ainda mais nitidamente. 
As canções que tocavam - umas que sei até hoje cantarolar, outras que reconheço pela melodia - todas elas registram lembranças. 
Consigo me transportar totalmente para o passado, para os momentos e sentimentos que eu vivia quando aquela música tocava no rádio como plano de fundo de alguma coisa situação corriqueira. Aquelas canções hoje são fantasmas que de vez em quando aparecem para me atormentar. 
Percebo que pessoas sensíveis carregam consigo uma mala sempre arrumada - ou não - para seguir viagem. Entretanto, nunca lhe são dadas tempo favorável para desfrutar das paisagens que compõem o cenário. Tudo é visto de fora, sempre em velocidade, sendo passado constantemente como uma película de filme projetada na janela. É, assim, que a vida e os acontecimentos passam e deixam claro a sua inércia perante eles.
Os horizontes, pássaros, nuvens e pessoas... tudo aquilo é algo desconhecido e fugaz. 
O cinema tem sempre em cartaz pessoas e cenas mudas e sem legendas. Talvez seja isso que eu sinto quando deixo de ler dentro dos ônibus coletivos e passo a observar a correria urbana. No começo, fazia aquilo com a intenção de reconhecer as ruas e avenidas pelos detalhes da arquiteturas de prédios e casas. Hoje me perco nas cenas e pessoas. Mergulho na imaginação literária que tenho, e, algumas vezes, percebo-me imerso nas histórias. Por vezes sou eu ali e acolá. Sou tantos por aí, a correr, a espera do próximo ônibus, a sorrir pelas ruas sentindo-me um ser livre de uma idéia de liberdade criada por mim. Sou eu, passarinho vo.ando. Sou poeta-fotógrafo responsável por imortalizar histórias em fotos e atribuir a elas, lembranças. Sejam cheiros, fotografias ou músicas, as lembranças são como a pele vestindo o esqueleto da vida. Compondo, dessa forma, os diferentes lares.

2 comentários:

  1. Texto nostálgico, que faz a gnt voltar a um tempo que éramos comissionados ao que passava nas rádios jequieense. Enfim, músicas boas ou ruins, de alguma forma marca um momento inóspito ou não.

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  2. Músicas, lembranças... Sempre quis escrever sobre isso. Gostei!
    Eu leio no ônibus - na minha constante falta de tempo -, enquanto ouço, "observo", através das vozes, o discurso alheio. Típico de estudante de letras.

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