sexta-feira, 3 de abril de 2009

Hoje o dia amanheceu nublado, e dias nublados são como cidades grandes, trazem consigo um ar de impessoalidade, um clima de refúgio, uma paz independente. Acordei e a minha sensação foi de quê tudo valeria a pena naquele dia, tudo! Mesmo que no final eu não tivesse feito nada, esse nada seria um ócio por demais saboroso. Dias desses são raros. É como acordar-se completo, irradiante! Tive revivida a lembrança de quando criança, correndo no quintal, em meio a lençóis lavados no varal. Ah, aqueles dias eram de uma paz que transcendia. Realmente, transcendia. Sempre quis denominar aquela minha sensação, mas naquele momento da minha vida, aquilo era inominável. Era como um ritual, que eu acompanhava cada fase, desde o momento da lavagem dos lençóis, onde minha mãe e minhas tias colocavam ‘os papos em dias’, e eu ficava ali, parado, embriagado por aquele mar de palavras e sensações. Ficava ali, sentado, noutras vezes ia assistir TV, tudo na expectativa do momento em que aqueles lençóis seriam colocados no varal, e que o vento juntamente com o sol, faria todo o restante. E no fim da tarde, quando o sol ia embora e deixava aqueles lençóis dançando a música orquestrada pelo vento, esse era o meu momento, o meu grande momento! Ia com todo aquele cuidado, para evitar que os sujasse, e em meio aquela dança eu me esgueirava, entrava por entre os lençóis ao ponto de pensar, na minha viagem infantil, que estava num túnel, num campo de força, indo diretamente para outro mundo, um mundo submergido pela minha criatividade.

2 comentários:

  1. um mundo infantil tal qual amelie poulain nos apresentou seu mundo cheio de sensações e memórias! que bom ler novamente seus textos.

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  2. Acho que esses sentimentos são valorosos para quem está distante de suas raízes primeiras. Quando era pequena e tinha que acordar cedo e ir a escola (que era longe de casa), me deparava com o orvalho fresco de início da manhã. Imaginava, imaginava que estava em um outro lugar, longe de tudo e de todos, num lugar que era fresco o tempo todo, como aquela manhã. Aquelas manhãs frias do interior me faziam crer num mundo fresco e leve, longe de tudo que se possa imaginar.
    Vc me faz me sentir em mim lex!

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