quarta-feira, 13 de maio de 2009

Naquele dia eu fiquei deslumbrado com a liberdade dos pássaros. Ah, eles iam e viam de uma forma tão leve, tão suave, tão diferente do ser humano preso no chão, preso as suas convicções e idealizações de coisas futuras, tão paradoxais. A natureza daquele lugar era tão mágica que não parecia que eu estava num lugar de fato, ou que eu existia, parecia que eu era um personagem, num daqueles livros imagéticos de mundos grandiosamente magníficos. Naquele instante, eu com a minha nikon fm10, a querer fotografar aquela imensa árvore seca, com galhos imensos, tão contrastantes com aquele universo de árvores cheias de folhas verdes. Em meio aquela inundação de sentidos, percebi um pássaro lindíssimo, quieto, num galho da mesma árvore seca. Eu, de baixo, apontando a minha nikon fm10, a calcular cada movimento, a perceber a velocidade e o diafragma, focando bem aquele ser na sua quietude, foi naquele instante, no momento em que puxei uma haste da câmera para fotografá-lo, que senti como se estivesse com uma arma, senti como se estivesse puxando o gatilho, preparando a bala, aproveitando a quietude daquele ser. Quem era eu para matá-lo, para aprisioná-lo naquele espaço-tempo? Eu não podia ter aquele poder de decisão...
Percebi o poder da fotografia, o poder de prender os seres - estáticos - em uma imagem. Aquele pássaro irá continuar na sua liberdade de ir e vir, eu continuarei aqui - com sua imagem presa - num filme. Levar aquele pássaro comigo numa fotografia é como trazer um pouco daquela representação de liberdade, presa na minha memória concreta. O conceito liberdade e prisão pairam, com isso, numa relatividade, que ao mesmo tempo consigo enxergar-me pássaro, dentro da minha vida-fotografia.

8 comentários:

  1. Outro dia tive a sensação que fazia parte de um filme e comecei assumir personagens. Em tempos de bigbroders é isso que eles querem. Coloquei as Vuarnet e sai por aí talvez sendo registrado por uma máquina de um fotografo cotidiano.

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  2. Da janela do apartamento em que morava no Dois de Julho eu via de cima os pombos voando de um prédio pro outro às vezes sozinho às vezes em revoada. Aí pensei: se fosse um animal eu quereria ser um pássaro. Como são belos voando por aí livres.

    Nossa qtas coisas esse texto me fez lembrar. ;)

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  3. Nossa quantas coisas esse texto me fez lembrar.

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  4. É impressionante como o tempo passa e vc consegue sempre estar se superando e escrevendo melhor sempre!
    estou admirada.

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  5. Fotografia tem muito de bruxaria, de mágica, de feitiço. Tem sim.

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  6. mas para além do clique, o pássaro vôou ou ficou parado?
    abração

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  7. uma certa época eu pintava gaivotas, gaivotas que não pareciam gaivotas, mas asas para o vôo livre. Libertei-me.

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  8. Há pouco tempo, sem querer, acertei um pombo. Aprisionei-o com minha compacta camera do celular. Nunca me esquecerei daquele pombo que desejou ser meu alvo-figurante-da-imagem-luz.

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